ESCOLAS CERVEJEIRAS – ESCOLA INGLESA
BEBA MENOS, BEBA MELHOR..
* Helena d’Ottenfels
Olá queridos leitores!
Vocês lembram quando falei que escola cervejeira é o mesmo que tradição, certo? Pois bem, se a cerveja existe há muito tempo, estamos tratando de características que se formaram de acordo com as peculiaridades naturais de cada região. A qualidade da água interfere diretamente no perfil da cerveja assim como o clima do local vai determinar como serão os maltes, lúpulos e leveduras cultivados lá e utilizados no processo. Lembrando também que atualmente temos os recursos tecnológicos para adequar todas as etapas de produção e ingredientes, mas tradição se constrói no passado e ao longo de muitos anos, quando essas facilidades não existiam.
A escola inglesa é marcada por estilos da família Ale – alta fermentação – e por cervejas acondicionadas em barris. Historicamente, a bebida era feita, em geral, por mulheres, para consumo da casa. Aos poucos, essas produções se tornaram motivo para reuniões entre amigos, dando origem ao que hoje chamamos de pub, eram as public houses.
É claro que a cerveja artesanal e acondicionada em barris nos pubs precisam ser bebidas em um tempo relativamente mais curto, mas, isso sem analisar cada estilo, pois de acordo com a graduação alcoólica esse prazo pode variar bastante.
Essa tradição inglesa sofreu uma tentativa de morte por volta da década de 60. Isso mesmo que você acabou de ler. Grandes cervejarias, buscando maior lucratividade, decidiram acabar com as cervejas de barril e introduziram nos bares cervejas completamente diferentes das que o público estava habituado. Provavelmente, os ingleses não estavam gostando de cervejas menos concentradas e industrializadas, que asseguravam estabilidade e lucro aos produtores.
Alguns anos depois, surgiu a Campanha pela Verdadeira Ale – CAMRA. Um grupo de pessoas definiu os métodos de produção de uma cerveja tradicionalmente Ale e se manifestaram a favor da cultura cervejeira inglesa, reclamando por seu retorno aos bares.
É claro que a globalização torna algumas mudanças irreversíveis e cervejas mais suaves e estáveis dominaram o mundo. Mas o movimento pela Ale Verdadeira surtiu efeito e hoje a tradição de cerveja de barril nos bares britânicos ainda é forte.
Que a qualidade da água interfere diretamente nas características da cerveja, vocês já sabem. Matthias R. Reinold escreve bem detalhadamente sobre o tema (https://www.cervesia.com.br/images/stories/img_imprensa/agua%20a%20base%20para%20uma%20boa%20cerveja.pdf), e eu recomendo a leitura para os mais curiosos. Resumindo, águas moles, ou seja, aquelas com menos presença de sais, propiciam a fabricação de cervejas claras e menos amargas. Já as águas duras, com mais presença de sais, propiciam a produção de cervejas mais escuras e amargas, já que possuem uma composição de substâncias que facilitam a caramelização dos açúcares do malte e a solubilização dos alfa-ácidos do lúpulo, responsáveis pelo amargor.
A água, na Inglaterra, é geralmente uma água dura, rica em sais, propiciando, assim, cervejas mais escuras e amargas. Ainda que hoje em dia haja recursos para adaptar a água e tornar a água dura uma água mole, para que você faça uma excelente pilsen na Inglaterra, a tradição da região se deu em uma época em que simplesmente contavam com os recursos como eles se apresentavam, o que é sensacional. Pelo menos eu acho muito interessante saber que a predominância de estilos escuros e amargos ingleses se dá em razão da qualidade da água de lá, não é mesmo?
Na próxima edição falaremos de alguns estilos desta escola.
Até lá!