Cervejas artesanais brasileiras encantam estrangeiros e movimentam cerca R$1,5 milhão em negócios durante 6ª rodada do programa Exporta Mais Brasil
No Rio de janeiro, ApexBrasil e Sebrae-RJ promoveram 44 reuniões de negócios entre compradores de quatro diferentes países e 11 cervejeiras brasileiras
Mais uma rodada do Exporta Mais Brasil, programa da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil), foi concluída com sucesso. Desta vez, no Rio de Janeiro, o setor de cervejas artesanais foi o foco do programa que trouxe quatro importadores internacionais de Malta, Argentina, Rússia e Dinamarca para verem de perto a produção local e fazer negócios. Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio (Sebrae RJ), o programa promoveu, de 9 a 11 de outubro, na cidade carioca, 44 reuniões de negócio entre os compradores e 11 empresas brasileiras do setor. Como resultado, os encontros geraram uma expectativa de R$ 1,5 milhões em negócios para os próximos 12 meses.
“Terminamos mais uma rodada do Exporta Mais Brasil com sucesso”, afirmou o representante do Escritório da ApexBrasil no Sudeste, Gustavo Fernandes, que acompanhou toda a programação da rodada. “Nesses três dias de projeto, os compradores internacionais tiveram a oportunidade de fazer visitas técnicas a fábricas locais e de participar de rodadas de negócios com algumas cervejeiras artesanais brasileiras. Eles puderam ver a variedade de produtos brasileiros e o potencial do setor no Brasil, que está em pleno desenvolvimento. O resultado trouxe boas perspectivas de negócios futuros”, disse Gustavo durante o café da manhã com os empresários que aconteceu na última quarta-feira (11), no CRAB Sebrae do Rio de Janeiro, mesmo local onde ocorreram todas as rodadas de negócio.
Para o responsável pela área de negócios Internacionais do Sebrae RJ, Maurício Chaur, a parceria do Sebrae com a ApexBrasil foi uma união de esforços perfeita para essa rodada. “Justamos nossos esforços, nossas equipes, a nossa expertise com micro e pequenas empresas e a expertise da ApexBrasil com a internacionalização para potencializar os resultados e fazer com que o Brasil ocupe cada vez mais o mercado externo”, afirmou Chaur, que também acompanhou os três dias do projeto junto com a equipe da ApexBrasil.
O setor cervejeiro brasileiro está em plena expansão e oferece ampla variedade de produtos, inovação, gera empregos e movimenta a economia de micro, pequenas e médias empresas. Dados do último Anuário da Cerveja, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), mostram que um em cada oito municípios brasileiros possui pelo menos uma cervejaria registrada. No total, o país soma atualmente 1.729 empresas do setor. O Brasil hoje é o terceiro maior produtor de cervejas do mundo, atrás somente da China e Estados Unidos.
Com relação às exportações, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em 2022, o setor registrou US$ 120,047 milhões em vendas. No primeiro semestre de 2023, as vendas externas somaram US$ 87 milhões. Nos últimos 10 anos (2012-2020), as exportações dobraram: foram de cerca de US$ 60 milhões para mais de US$ 120 milhões. Os principais destinos são os países da América do Sul, que respondem por 98,4% da exportação do produto brasileiro. Em 2022, o Paraguai foi o principal comprador.
Experiência completa
No primeiro dia da 6ª rodada do Exporta Mais Brasil, a equipe da ApexBrasil e do Sebrae levaram os compradores para uma experiência completa em Petrópolis, um dos polos cervejeiros do Rio de Janeiro. A cidade hoje conta com 23 cervejeiras especiais certificadas, sendo que oito delas já têm a própria fábrica. Lá, os visitantes visitaram a fábrica da Odin, empresa familiar e integrante da Rota cervejeira RJ, que produz cervejas especiais desde 2015.
O sócio proprietário da Odin, Felipe Rabah, conta que ele e o melhor amigo de infância começaram a produção como uma “brincadeira de adulto” que deu tão certo que ambos largaram seus respectivos empregos para empreender no universo cervejeiro. Com o sucesso, criaram então, em 2017, o próprio bar/restaurante, chamado Casarão, para vender os próprios produtos. Felipe apresentou com orgulho aos compradores estrangeiros a fábrica e o negócio que ele e o melhor amigo de infância construíram com o apoio dos seus respectivos pais, hoje também sócios da empresa. A Odin ainda não exporta, mas Felipe conta que o Exporta Mais Brasil abriu essa possibilidade e desmistificou muitas barreiras do universo da exportação. “Parecia um bicho de sete cabeças e agora estamos vendo que é possível e que temos potencial para vender para fora do país”, afirmou. “As expectativas com a presença dos compradores aqui são altas. Quem sabe a gente começa a exportar nossos produtos feitos aqui no Brasil para o mundo”, concluiu.
Os compradores visitaram também o bar da cervejaria HocusPocus. A empresa carioca começou em 2014 produzindo de forma cigana, termo utilizado para o modelo de produção de cervejarias sem sede própria, que produzem suas receitas com a infraestrutura de outras marcas. A prática é comum até que a cervejaria tenha condições de ter a própria fábrica. Para a HocusPocus, esse momento foi em 2018. Com a fábrica localizada no município de Três Rios, a cervejaria vende seus produtos no próprio bar em Botafogo e em diversos pontos do Rio e também de São Paulo.
O gerente de Vendas da HocusPocus, Salo Maldonado, conta que a cervejaria já está pronta para começar a vender para o mundo. Capacitada pelo Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) da ApexBrasil em 2021, desde então os sócios vêm se preparando para começar a exportar. Nesta rodada, eles ofereceram aos compradores suas cervejas especiais que fizeram sucesso e abriram portas para propostas e negociações.
Outra visita que fez parte da agenda dos compradores foi na cervejaria artesanal familiar mais premiada do Rio de Janeiro, a Noi, localizada em Niterói. Na ocasião, eles puderam ver de perto toda a produção artesanal e também degustar a cerveja que já tem mais de 80 prêmios internacionais, além de outras inovações, como a Gut Oktober Sauer, produzida especialmente para o Festival Mondial de la Biere Rio. Além dos tradicionais sal e coentro, a cerveja especial teve adição de coco e casca de frutas cítricas.
A Noi começou em 2008 produzindo suas cervejas de forma cigana e, em 2022, construiu a própria fábrica para produzir as cervejas que seriam vendidas no restaurante da família. A diretora-executiva da empresa, Bianca Buzin, conta que a cervejaria ultrapassou o business do restaurante, mas os dois negócios atuam conjuntamente no mesmo espaço e fazem sucesso no Rio de Janeiro. Além dos cariocas, as cervejas da Noi também conquistaram os paulistas e em breve estarão em Minas Gerais. Hoje já são mais de 400 pontos de venda. Bianca conta que já exportou uma vez para o Chile, mas a falta de conhecimento na área e a pandemia não deixaram o processo caminhar. Ao participar do Exporta Mais Brasil, Bianca afirma que agora está ainda mais perto de conquistar novos mercados. “Quero fazer acontecer, quero me capacitar ainda mais e começar a exportar sim. Essa foi a primeira rodada de negócio que participei e essa oportunidade que a ApexBrasil e o Sebrae estão nos oferecendo está sendo muito bacana”, afirmou.
Rodadas de negócio
As reuniões de negócio da 6ª rodada do Exporta Mais Brasil tiveram um clima diferente. Isso porque, além de falar de negócios, os compradores internacionais também degustaram os produtos. Para a diretora administrativa da Malteca Cervejaria Artesanal, Tatiava Verticchio, que participou da primeira rodada de negócio internacional da empresa, a experiência mostrou que os produtos brasileiros estão no mesmo nível de qualidade que eles esperam. “A gente viu que eles estão muito interessados em levar produtos brasileiros aos seus países e que as nossas cervejas brasileiras têm a qualidade que eles procuram, eles elogiaram bastante os produtos. Acho que temos tudo para decolar e começar o processo de internacionalização das nossas cervejas artesanais”, concluiu Tatiana.
O CEO da cervejaria BackBone, Andre Guedes, disse que as rodadas de negócio foram uma primeira etapa fundamental para dar início às negociações e elaboração de propostas. “Os compradores foram muito bem escolhidos, são muito qualificados, e vamos torcer para fechar negócios em breve”, disse animado após a rodada.
Além do Rio de Janeiro, entre as 11 empresas participantes das rodadas, estavam cervejarias do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Cervejas brasileiras conquistando o mundo
Para o comprador da Argentina, Carlos Alberto Rabaglia, a experiência foi melhor do que esperava. “Estou surpreendido com as variedades e pelas inovações que estão fazendo aqui no Brasil, com muita qualidade, partindo da larger e depois distintas variações realmente muito boas”, disse o argentino, que tem uma distribuidora de bebidas em Buenos Aires. Ele afirma que quer levar para a capital porteña cervejas brasileiras como essas que ele provou durante as rodadas, e que depende apenas de alguns fatore como logística e preço para fechar os negócios.
O dinamarquês Henrik Boes, que também tem uma importadora e distribuidora, conta que atualmente compra cervejas de países da Europa, mas que tem interesse em expandir a atuação para o mercado brasileiro. “Foi ótimo ter visitado as cervejarias que nós visitamos até agora, as cervejas têm muita personalidade, eu me surpreendi com a qualidade, que supera muito o que eu esperava. É muito legal ver que as cervejarias aqui estão começando a trabalhar com ingredientes locais”, destaca Henrik, se referindo a uma cerveja específica que a Noi está produzindo com um lúpulo cultivado lá mesmo em Petrópolis. A produção é do ator Thiago Lacerda, que cultiva o chamado Lupulo Riad de forma 100% orgânica.
Sobre a iniciativa do Exporta Mais Brasil de trazer compradores como ele para ver de perto a produção local, Henrik afirma ser a melhor forma de apresentar um mercado novo. “É muito bom visitar e conhecer um país antes de começar a comprar seus produtos. Certamente vai ser muito mais fácil vender os produtos no mercado europeu depois de ter visto as cervejarias, conversado com as pessoas e, em geral, ter conhecido um pouco do país”, afirma. Ele explica também que os preços são muito atrativos para o mercado europeu e que pretende fechar negócios a partir dessa rodada. “Esperamos ter sucesso. Se conseguirmos resolver bem a questão logística e de frete, acho que conseguiremos fechar alguns acordos”, conclui o importador dinamarquês.
Mondial de La Bière
Para fechar a rodada, a ApexBrasil levou os compradores internacionais para visitarem o principal festival internacional de cervejas artesanais da América Latina, o Mondial de La Bière, que começou no dia 11. Sucesso idealizado no Canadá e realizado desde 1994, com edições anuais também na França e no Brasil, o evento reúne centenas de cervejarias, gastronomia, shows e diversas atrações. No Brasil, o festival acontece desde 2013 no Rio de Janeiro, ampliando barreiras e sendo realizado também em São Paulo, desde 2018.
Sobre o Exporta Mais Brasil
Com o Exporta Mais Brasil, o objetivo da ApexBrasil é de ampliar as vendas de produtos brasileiros para o exterior por meio de uma aproximação ativa com todas as regiões do país, trazendo compradores internacionais para ver de perto o potencial de setores específicos da economia e fazer negócios diretos com as empresas e produtores. As cinco primeiras rodadas do programa, dedicadas aos setores de móveis, rochas ornamentais, cafés Robustas Amazônicos, pescados e artesanato movimentaram mais de R$ 100 milhões em negócios. Até agora, 142 empresas brasileiras participaram do programa, que trouxe 53 compradores internacionais de 23 diferentes países.
A rodada com foco em cerveja foi a 6ª do programa. A próxima será em Goiânia, voltada para o setor de cosméticos, de 17 a 19 de outubro.