Natal parcelado do grupo de família
Nos grupos de família do zap, é Natal o ano inteiro. Pode nem ter jingle bell, especialmente se o grupo foi silenciado, mas a torta de climão não falta, servida em pequenas fatias ao longo de 365 dias.
No Natal em pedaços do mundo virtual, o tio do pavê substitui a piada infame do “pavê ou pacomê” pelo também infame gemidão do zap, que uma desavisada avó pode abrir no meio do culto, achando que é algo importante.
E a tia do constrangimento pode aparecer no Instagram para transformar o inconveniente “e as namoradinhas?” em comentário maldoso numa foto de broderagem do sobrinho adolescente. Ou dar o ar de sua (des) graça na foto da enteada do irmão, junto com as amigas na caixa da Barbie no saguão do cinema. “Onde você conseguiu dinheiro pra comprar essa calça pink, Berenice?”
Depois que passou a existir grupo de família de Zap, as tretas e vexames envolvendo parentes tomam proporção de fazer inveja aos trend topics do Twitter – ops, do X. Com ou sem bate-boca, tudo o que é postado corre o risco de virar video de dancinha do TikTok. Afinal, excessos de fim de ceia podem ocorrer o ano todo. Ninguém tá livre de uma câmera oculta, mesmo pensando que está cantando sozinho na cozinha.
Vi esta semana um comentário sobre o assunto no Facebook. Ninguém tem mais sossego: há sempre um celular apontando a câmera e produzindo um video aleatório. Achei intrigante uma revelação na caixa de comentários.
A família da pessoa chegou a ter cinco grupos diferentes: dois grupos para cada espectro político (o que já se tornou cultural no Brasil), o grupo dos não-crentes, o das trocas de receitas, o dos intelectuais envergonhados e dos que dão bom dia, boa tarde e boa noite.
Agora, antes do Natal, criaram um grupo especial da ceia, reunindo todos. Todos mesmo: familiares do país inteiro e até do exterior. Combinaram de fazer um amigo oculto virtual, só com gifs. Uma boa oportunidade para a treta inaugural.
O grupo da família também amplia para redes sociais o drama que, sem internet, ficaria entre duas ou três pessoas. Também acelera o compartilhamento de fofocas que só seriam reveladas nas reuniões de fim de ano.
Quem pensa que tá livre na ceia presencial porque a fofoca já circulou durante o ano, pode sair da ilusão. Mesmo sem cair numa quinta-feira, o almoço de Natal é o momento #TBT dos videos, fotos e memes familiares que os fofoqueiros deixaram vazar durante o ano.
Relaxe, aproveite e Boas festas!
*Nossa nova colunista arah! Escreve aqui toda semana com este seu olhar atento sobre o “mundo virtual”. Acompanhe seus textos!